Heresia é todo ensino ou doutrina que desvia da verdade revelada por Deus, levando as pessoas ao erro e à separação da fé verdadeira em Cristo. A Bíblia registra vários exemplos de heresias, doutrinas falsas ou desvios da fé, que surgiram entre o povo de Deus ao longo do Antigo e do Novo Testamento. Veja alguns exemplos de heresias com suas respectivas referências bíblicas.

1. Adoração ao bezerro de ouro

Heresia: Idolatria, substituição do Deus verdadeiro por imagem.

Referência: Êxodo 32:1-6

Ele os recebeu e os fundiu, transforman­do tudo num ídolo, que modelou com uma fer­ramenta própria, dando-lhe a forma de um be­zerro. Então disseram: "Eis aí os seus deuses, ó Israel, que tiraram vocês do Egito!"
- Êxodo 32:4

A heresia ocorreu enquanto Moisés estava no monte Sinai, recebendo os mandamentos de Deus. O povo, impaciente com sua demora, pede a Arão que lhes faça um deus que os guie.

Arão então coleta ouro do povo e modela um bezerro, apresentando ao povo. Este posicionamento representa uma clara substituição do Deus verdadeiro por uma imagem feita por mãos humanas.

A heresia está na corrupção da adoração, atribuindo a uma imagem os feitos do Senhor. O posicionamento bíblico é de total rejeição: Deus manifesta sua ira, e Moisés intercede pelo povo, destruindo o bezerro e punindo os envolvidos.

Este episódio evidencia que qualquer forma de idolatria é uma violação direta do primeiro e segundo mandamentos, mostrando que Deus exige fidelidade exclusiva. A idolatria é tratada como pecado grave, passível de morte e de separação da presença de Deus.

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2. Apostasia e o sincretismo religioso de Jeroboão

Heresia: Criação de cultos paralelos de adoração com ídolos.

Referência: 1 Reis 12:28-30

Assim o rei tomou conselho, e fez dois bezerros de ouro; e lhes disse: Muito trabalho vos será o subir a Jerusalém; vês aqui teus deuses, ó Israel, que te fizeram subir da terra do Egito.
- 1 Reis 12:28

Jeroboão, temendo que o povo voltasse a Judá para adorar em Jerusalém, instituiu um culto paralelo para manter o controle político. Ele fez dois bezerros de ouro, colocando um em Betel e outro em Dã.

Além disso, Jeroboão criou festas, sacerdotes e altares à margem da Lei de Deus. A heresia aqui é o sincretismo e a corrupção da verdadeira adoração, misturando elementos do culto ao Senhor com práticas pagãs.

A Bíblia declara que isso se tornou em pecado para todo o povo. Deus enviou profetas para denunciar essa prática, e os livros de Reis continuamente afirmam que Jeroboão “fez Israel pecar”. O julgamento divino viria sobre ele e sua casa por essa apostasia. O ensino é claro: não se pode adaptar ou reinventar o culto a Deus segundo conveniências humanas. O culto verdadeiro exige obediência à revelação de Deus.

3. Sacrifícios a deuses pagãos e cultos a Baal

Heresia: Abandono do culto ao Senhor para seguir Baal e Aserá.

Referência: 1 Reis 18:18-21

"Não tenho perturbado Israel", Elias respondeu. "Mas você e a família do seu pai têm. Vocês abandonaram os mandamentos do Senhor e seguiram os baalins.
- 1 Reis 18:18

Durante o reinado de Acabe, influenciado por sua esposa Jezabel, o povo de Israel passou a seguir Baal e Aserá, deuses cananeus. O profeta Elias confronta essa apostasia no Monte Carmelo. Ele desafia os profetas de Baal para provar quem é o verdadeiro Deus. O povo estava dividido, tentando seguir a Deus e a Baal ao mesmo tempo.

A heresia aqui é o abandono da lealdade exclusiva ao Senhor. Elias denuncia essa infidelidade e chama o povo ao arrependimento e à decisão: “Se o Senhor é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no”. Deus respondeu com fogo do céu, consumindo o holocausto de Elias, provando ser o único Deus verdadeiro.

A resposta do povo foi se prostrar e declarar: “Só o Senhor é Deus!”. Deus é exclusivo, e o culto a qualquer outro ser é heresia e idolatria, passível de juízo.

Saiba mais sobre o profeta Elias.

4. Práticas judaicas: exigência da circuncisão para salvação

Heresia: Salvação pelas obras da Lei, não pela fé em Cristo.

Referência: Gálatas 1:6-9; Atos 15:1

Alguns homens desceram da Judeia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos: "Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos".
- Atos 15:1

Os judaizantes eram judeus cristãos que insistiam que os estrangeiros deveriam ser circuncidados e guardar a Lei de Moisés para serem salvos. Em Atos 15:1, afirmam: “Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos”.

Paulo escreveu indignado aos gálatas por estarem se afastando do evangelho da graça. A heresia consistia em misturar fé com obras da Lei como meio de justificação diante de Deus. Isso anulava o sacrifício de Cristo e negava a suficiência da graça.

O Concílio de Jerusalém em Atos 15, declarou que os gentios não precisavam ser circuncidados, reafirmando que a salvação é exclusivamente pela fé em Jesus. Paulo combate firmemente essa heresia ao longo de suas cartas, especialmente em Romanos, Gálatas e Filipenses.

O posicionamento bíblico é claro: “concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.” (Romanos 3:28). A tentativa de acrescentar exigências humanas à obra de Cristo é um erro fatal, pois desvia da centralidade do Evangelho, que é Jesus.

4. Nicolaísmo

Heresia: Práticas imorais e concessões ao paganismo.

Referência: Apocalipse 2:6, Apocalipse 2:15

Mas há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas , como eu também as odeio.
- Apocalipse 2:6

A seita dos nicolaítas aparece mencionada nas cartas às igrejas de Éfeso e Pérgamo no livro de Apocalipse. Embora não haja muitos detalhes, o contexto mostra que suas práticas envolviam permissividade moral e envolvimento com idolatria e rituais pagãos.

Essa heresia representava um grave comprometimento com o mundo, tentando conciliar o Evangelho com práticas contrárias à santidade de Deus. Cristo elogia a igreja de Éfeso por odiar as obras dos nicolaítas, mostrando que a fidelidade doutrinária é valorizada por Deus.

Já em Pérgamo, Jesus repreende por tolerarem esses ensinamentos. O posicionamento bíblico é claro: a igreja deve se separar de toda forma de impureza e não pode aceitar doutrinas que promovem o pecado em nome da “liberdade”.

A mensagem de Apocalipse reforça que, mesmo em um ambiente hostil, o cristão deve permanecer fiel à verdade, sem negociar princípios para se adequar ao sistema do mundo.

5. Negação da encarnação de Cristo

Heresia: Negar que Jesus veio em carne.

Referência: 1 João 4:1-3, 2 João 1:7

De fato, muitos enganadores têm saído pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em corpo. Tal é o enganador e o anticristo.
- 2 João 1:7

Uma das primeiras heresias combatidas pela igreja primitiva foi a negação da encarnação de Cristo. Essa doutrina falsa está relacionada com as ideias do gnosticismo, que considerava a matéria como má e o espírito como bom. Por essa razão, muitos negavam que Deus poderia ter realmente se encarnado em um corpo humano.

Eles diziam que Jesus apenas “parecia” ter um corpo (doutrina conhecida como docetismo). O apóstolo João combate essa heresia fortemente em suas cartas, afirmando que qualquer espírito que não confessa que Jesus veio em carne “não é de Deus”. Essa negação é chamada de “o espírito do anticristo” (1 João 4:3).

A doutrina da encarnação é central para a fé cristã, pois somente um Cristo verdadeiramente humano e divino poderia ser o mediador entre Deus e os homens e o sacrifício perfeito pelos nossos pecados. Negar isso é rejeitar o próprio evangelho. O posicionamento bíblico é firme: é essencial reconhecer que Jesus é plenamente Deus e plenamente homem. Essa heresia não apenas deturpa a pessoa de Cristo, mas mina completamente a base da salvação.

6. Himeneu e Fileto: negação da ressurreição dos crentes

Heresia: Negação a ressurreição futura.

Referência: 2 Timóteo 2:16-18

O ensino deles alastra-se como câncer; entre eles estão Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu, e assim a alguns pervertem a fé.
- 2 Timóteo 2:17–18

O apóstolo Paulo cita Himeneu e Fileto como exemplos de falsos mestres que estavam promovendo doutrinas erradas no seio da igreja. A heresia deles consistia em afirmar que a ressurreição “já havia acontecido”.

Eles diziam que a ressurreição já tinha acontecido, entendendo isso apenas como uma mudança interior que acontece quando alguém crê em Jesus. Com isso, negavam de que no futuro, os corpos dos crentes seriam ressuscitados de verdade. Essa ideia vinha de filosofias da época, como o platonismo, que achava que o corpo era ruim e só o espírito era importante.

O problema era grave: ao distorcer uma doutrina central da fé cristã, causavam confusão e minavam a esperança dos crentes. Paulo alerta que tais discursos havia “pervertido a fé de alguns”.

A ressurreição dos mortos é uma esperança futura, literal e gloriosa para os que estão em Cristo (1 Coríntios 15). Negá-la é destruir a base da nossa fé. Paulo responde a esse erro conclamando os crentes a “manterem firme o fundamento de Deus” e a se afastarem da impiedade. A doutrina da ressurreição não é secundária, mas vital para a fé cristã.

7. Balaão e Jezabel: Comer coisas sacrificadas aos ídolos e imoralidade

Heresia: Mistura do cristianismo com práticas pagãs.

Referência: Apocalipse 2:14 e 20

"No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa. Com os seus ensinos, ela induz os meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos.
- Apocalipse 2:20

Nas cartas às igrejas de Pérgamo e Tiatira, Jesus denuncia duas influências heréticas associadas a figuras do Antigo Testamento: Balaão e Jezabel. Balaão, citado em Números, ensinou os moabitas a seduzir os israelitas com imoralidade e idolatria. Em Apocalipse 2:14, ele simboliza os que dentro da igreja incentivam concessões ao mundo pagão.

Já “Jezabel”, uma referência simbólica à rainha perversa de Israel, representa uma falsa profetisa que promovia imoralidade sexual e idolatria dentro da igreja de Tiatira. Ambas representam o mesmo erro: tolerar práticas que contradizem a santidade exigida por Deus.

Ao invés de separar-se das impurezas do mundo, essas doutrinas convidavam os cristãos a se misturarem com os valores pagãos da cultura romana.

O posicionamento bíblico é de absoluta rejeição a essas práticas. Jesus chama ao arrependimento e alerta sobre julgamento iminente para os que persistirem nessas heresias. A fidelidade à verdade e à pureza moral é inegociável.

A igreja deve resistir à tentação de adaptar-se ao mundo e manter sua lealdade a Cristo, mesmo diante da perseguição ou pressão cultural.

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8. Falsos mestres e doutrinas destrutivas

Heresia: Falsos mestres trazendo doutrinas destrutivas.

Referência: 2 Pedro 2:1-3

No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.
- 2 Pedro 2:1

O apóstolo Pedro adverte que falsos mestres surgiriam entre o povo de Deus, assim como houve falsos profetas no passado. Esses líderes iriam introduzir “heresias destruidoras”, negando até mesmo o Senhor que os resgatou. Essa negação poderia incluir tanto uma rejeição da autoridade de Cristo quanto uma vida depravada que contradizia Seus ensinamentos.

A gravidade dessas heresias está em sua natureza sorrateira e sedutora: muitos os seguiriam por causa da "liberdade", e o caminho da verdade seria blasfemado. Pedro afirma que sua motivação era a ganância e que fariam comércio do povo com palavras fingidas.

O apóstolo dedica todo o capítulo 2 a mostrar o destino terrível dos que distorcem a verdade com fins egoístas e corruptos. A verdadeira doutrina bíblica promove santidade, temor a Deus e submissão à soberania de Cristo. Ao contrário, os falsos mestres promovem liberdade carnal, relativismo e destruição espiritual.

A igreja deve estar vigilante e firmada na Palavra, para não ser levada por ventos de doutrina e por engano de homens corruptos.

9. Simão, o Mago: Tentativa de comprar o poder de Deus

Heresia: Tratar o dom do Espírito Santo como algo comercial.

Referência: Atos 8:18-23

e disse: "Deem-me também este poder, para que a pessoa sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo".
Pedro respondeu: "Pereça com você o seu dinheiro! Você pensa que pode comprar o dom de Deus com dinheiro?
- Atos 8:19-20

Simão, o Mago, era um homem que anteriormente praticava feitiçaria em Samaria e era muito influente entre o povo. Quando ouviu a pregação de Filipe e viu os sinais e milagres, creu e foi batizado.

No entanto, ao ver que os apóstolos impunham as mãos sobre as pessoas e elas recebiam o Espírito Santo, Simão ofereceu dinheiro a Pedro para receber esse mesmo poder. Essa atitude revelou que ele não compreendia a graça e a santidade do dom de Deus.

A heresia aqui é tratar as coisas espirituais como mercadoria, algo que pode ser adquirido por meios humanos, e não pela vontade soberana de Deus. Essa atitude, conhecida depois como “simonia”, foi condenada ao longo da história da igreja.

Os dons do Espírito são concedidos por Deus gratuitamente, conforme a Sua vontade, e não podem ser manipulados ou comprados.

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